UEFA Nations League – Nova Chama ou Peso Morto?

 

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Sempre que vem a propósito, entre amigos, o tema “Clube vs. Seleção Nacional”, a esmagadora maioria expressa sempre sem hesitações um enorme e muito superior entusiasmo pelo seu clube, desvalorizando frequentemente a presença da Seleção Nacional na sua vida “futebolística”. O entusiasmo do futebol de seleções tem vindo a decrescer na última década e, exceção feita aos Europeus e Mundiais a cada 730 dias, não existe praticamente adesão ao futebol de seleções no intervalo entre as grandes competições.

A UEFA Nations League vem procurar reacender a chama do futebol internacional, mas a que custo?

Comecemos pelas razões que levam ao desinteresse nas seleções. É certo que para os selecionadores os amigáveis são importantes jogos de teste e experimentação, tanto a nível individual como coletivo, mas para os adeptos não passam de uma mera formalidade no calendário.  O mesmo sucede nos jogos de qualificação dos grandes tubarões, sabendo que se irão apurar para os Europeus e Mundiais mais tarde ou mais cedo. Não se pode pedir a um adepto que, em pleno Novembro, entre jornadas consecutivas de competições europeias e campeonato, “mude o chip” da noite para o dia e demonstre o mesmo (ou o mínimo de) interesse num amigável entre Portugal e Egito ou Alemanha e Lituânia. Agora, admito que para quem anseia ver a seleção ao vivo e nunca tem ou teve oportunidade de o fazer, como por exemplo grupos de emigrantes, estes encontros sirvam de motivação, mas não chega. Não chega para manter o adepto casual empenhado e entusiasmado com a sua seleção num desporto completamente controlado e monopolizado pelos clubes, não só ao nível da comunicação social, mas também em termos de apoios financeiros e de uma presença fortíssima nas redes sociais.

Quero deixar claro que as intenções da UEFA na criação da Liga das Nações são boas. O objetivo é precisamente eliminar grande parte desses amigáveis “desinteressantes”, transformando-os em jogos competitivos e atraindo potencialmente mais adeptos para o futebol internacional, ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento de jogadores menos utilizados nos seus clubes, e até nas próprias seleções. Há um certo prazer na ideia de competir em formato Liga, subindo e descendo de divisão conforme o desempenho, especialmente na Divisão A onde os tubarões se encontram. É sempre mais entusiasmante assistir por exemplo a um França – Inglaterra. Simultaneamente, temos partidas muito mais competitivas na Divisão D entre pequenos da Europa (São Marino, Lichtenstein, Malta etc.) do que se jogassem sempre contra os grandes, incutindo nessas seleções mais amadoras uma mentalidade vencedora. Existe também uma vaga para o Europeu em cada divisão da Liga das Nações, conceito que me parece um pouco absurdo, visto que a UEFA já dá oportunidades a seleções mais pequenas de se qualificarem, ao ter expandido o Europeu para 24 equipas.

A falta de interesse e de popularidade da competição do lado dos adeptos e o ceticismo por parte de alguns profissionais de futebol (treinadores, etc.) tem sido gritante. As grandes seleções acabam por não tirar real benefício competitivo em participar, visto que acabam (quase) sempre por se apurar para o EURO de forma tranquila por meio da qualificação, abdicando portanto das suas vagas na Liga das Nações. Os treinadores dos clubes tremem de medo e fúria ao imaginarem o próximo boletim clínico após mais um jogo competitivo dos seus jogadores ao serviço das seleções. O treinador do Liverpool, Jürgen Klopp, já demonstrou publicamente o seu descontentamento face à Liga das Nações, afirmando que “é a competição com menos sentido no mundo do futebol”, alertando para o acentuado risco de lesão por parte de atletas que jogam competições mais importantes, como a Premier League ou a Liga dos Campeões.

Reconhecendo a possibilidade de a UEFA Nations League poder vir a tornar-se num peso morto, tanto na mente do adepto, como na ótica dos próprios clubes, seleções e jogadores, esta jovem competição merece uma oportunidade para singrar. É do total interesse do futebol que a competição traga resultados e movimente a massa adepta de novo na direção do futebol de seleções. Se funcionar, poderemos ver até a FIFA a conceber algo semelhante num futuro próximo. O futebol internacional continua a produzir momentos fantásticos e inesquecíveis na memória de cada um de nós (não preciso de relembrar, pois não?) e isso é algo que não nos podemos dar ao luxo de esquecer. Se a Liga das Nações nos acender essa chama, o que temos nós a perder?

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